Na vida, quando passamos por mudanças, precisamos enfrentar um  período de desorganização inicial. Ou seja, as coisas precisam piorar para melhorar.

Por exemplo, no término de um relacionamento, mudança de profissão ou de hábitos, nós precisamos “desfazer” a relação estagnada onde estamos e  “voltar ao caos”. Essa descida envolve pensar em todos os erros que cometemos para chegar naquela situação, assim como Dante conversando sobre os condenados para saber como chegaram ali. Isso é o que representa a descida ao inferno. Nesta etapa é comum sentirmos medo e ansiedade.

Em seguida, vem um período de reorganização e de trabalho para estabelecer uma relação nova, corrigindo os erros que não queremos que se repitam. Essa longa purificação é o purgatório. Esse processo também envolve um período de restrição voluntária do tipo de relação que estamos abandonando, para que uma nova possa ser construída. Aqui, a falta de paciência pode nos fazer abandonar o trabalho e cair no inferno novamente.

A chegada ao Paraíso acontece quando a mudança é consolidada após um longo trabalho. Este foi o caso de Dante, que sofreu muito ao ser exilado por razões políticas. Porém, foi no exílio, longe do envolvimento com os problemas sociais, que ele conseguiu se dedicar por anos à Comédia que o imortalizou. Isso mostra que acontecimentos aparentemente catastróficos podem ter fins criativos.

Esse padrão de descer para subir nos ensina a como passar por esses períodos de mudança, enfrentando o medo do início, mantendo a paciência durante a reorganização, para então atingir o objetivo final, que coroa e redime todo o processo. Claro que isso é só um dos significados que podemos tirar da Divina Comédia, já que é impossível falar da profundidade filosófica, histórica, poética e religiosa desta obra em um pequeno texto. Explorei um pouco mais o simbolismo desta obra no meu canal do YouTube:

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