O pai tirano é representado pelo gigante, pelo ditador, pelo demônio que tenta tomar o lugar de Deus e pelo rei que tenta matar todos os sucessores que um dia possam tomar seu lugar.

Essa figura aparece na mitologia grega sob a forma de Cronos, que devora os próprios filhos com medo de que um deles possa destroná-lo, ou no cristianismo, na figura de Herodes que manda matar as crianças de Belém quando fica sabendo do nascimento de Cristo, que será o novo rei.

O Pai Tirano pode dar origem a dois tipos de personalidades negativas: o indivíduo passivo, rígido no seguimento de regras, que suprime todos os traços da própria individualidade; ou o indivíduo rebelde que se revolta contra todo o tipo de autoridade e lei, prejudicando sua própria adaptação à sociedade. Uma terceira possibilidade é o filho se tornar mais apegado ainda à mãe, para se proteger do pai, criando uma psique dividida.

Por um lado, o indivíduo sente um impulso para se libertar do pai, por outro, o medo faz com que ele nunca confronte a situação diretamente. Isso não significa que a separação do pai externo vai libertar o indivíduo desse símbolo negativo. Pelo contrário, nós mesmos podemos nos comportar como o Pai Tirano, quando nos desviamos dos sacrifícios necessários para que o desenvolvimento continue, tentando prolongar mais que o necessário uma determinada fase da vida e seus modos de comportamento. A única forma de se libertar dos complexos parentais negativos é assumirmos responsabilidade por nós mesmos.

Mesmo que a nossa consciência tente abortar o desenvolvimento por preguiça ou covardia, nosso futuro eu, que Jung chamou de si-mesmo ou Self, nunca deixa de tentar nascer. Como a mitologia mostra, a vitória do si-mesmo é inevitável. Podemos participar desse processo ativamente, através do auto sacrifício que abre o caminho para este desenvolvimento, ou resistirmos e sermos despedaçados em algum momento com o rei tirano.

O Eu despedaçado involuntariamente significa um colapso do qual o indivíduo pode não se recuperar. A perspectiva de transformação é muito melhor quando isso é feito voluntariamente, como nas histórias de Hércules, Sócrates e, claro, Cristo, que transcendem a morte ao aceitarem seu sacrifício voluntariamente.

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