A relação entre inflexibilidade e rebeldia
A história de Peter Pan fala sobre um garoto que vive em uma terra onde as crianças não crescem, em conflito constante com Capitão Gancho, que busca se vingar do garoto após ter perdido a sua mão esquerda. Aqui, podemos enxergar um tipo de relação entre pai e filho que prejudica o desenvolvimento psicológico de ambos:
Capitão Gancho é um adulto infeliz. Ele se ressente de uma tragédia que aconteceu em sua vida, a perda de sua mão esquerda, e nunca conseguiu superá-la. Ao mesmo tempo, essa perda o deixa com um medo constante da morte, representada pelo crocodilo que um dia vai devorá-lo. Isso faz com que ele se torne um tirano, pois o excesso de controle traz uma falsa sensação de segurança.
Ele representa o adulto que não aprendeu a aceitar os sofrimentos e encontrar o sentido da vida apesar deles. Isso faz com que esse tipo de pessoa se torna amargurada por ver os sacrifícios inerentes a existência como um peso insuportável. Por se sentirem oprimidos pela vida, elas fazem o mesmo com os que estão ao seu redor. Muitas vezes, os filhos são as principais vítimas.
Ao mesmo tempo, existe uma inveja secreta desse tipo de pessoa para com as crianças. Elas enxergam a infância como um período de verdadeira felicidade, por ser um período sem responsabilidades. Essa inveja é outra razão para elas descontarem a raiva nos filhos, exigindo que eles sofram como elas.
Peter Pan, por outro lado, é a criança que, ao ver a infelicidade dos adultos, se recusa a crescer para não ser como eles. Porém, essa atitude é igualmente prejudicial para o seu desenvolvimento, já que a falta de maturidade e disciplina vem acompanhada por todos os tipo de problema. O jovem rebelde acha que está lutando contra o pai, mas não percebe que está prejudicando a si mesmo.
Porém, não se pode responsabilizar o Capitão Gancho totalmente pela atitude infantil de Peter Pan. Nem todos que têm contato com um adulto amargurado se tornam rebeldes que não querem crescer, assim como nem todos que tem modelos positivos de adultos aceitam de bom grado os sacrifícios do amadurecimento. Existe um fator de decisão pessoal em todas as nossas reações pelo qual os outros não podem ser culpabilizados.
A solução para o problema de ambos é aprender a aceitar os sofrimentos da existência com humildade, e aprender o valor e a satisfação que acompanham os sacrifícios feitos voluntáriamente. Aceitar amadurecer e crescer significa, em última instância, aceitar a passagem do tempo e a própria mortalidade como fontes de sentido para a vida, fazendo as pazes com o fluxo natural da existência, sem se rebelar contra ele ou tentar controlá-lo.